Depois do Zero Absoluto

Eu me tornei uma onomatopeia lânguida nadando no lago dos suicidas. Um eco sem origem, forma sem força, resquícios de um ruído antigo. Aquele murmúrio que morreu de exaustão no fundo de um espelho rachado. Cada braçada nesse lago é uma desistência disfarçada de sorriso, de movimento. A água me consome com ternura fingida, me embala como se me amasse. Mas ela quer me manter ali, submerso, sem nome, sem forma.

Sou um eco existencial que floresce de um ventre consumido por moscas. Nasci do que sobrou, das ruínas da dor e do amor. Uma fé corroída entre pactos quebrados em silêncio. Meu corpo carrega o veneno dos que vieram antes. Amo esse vazio, assim como as moscas amam a putrefação e o chorume que exalam desse cadáver. A beleza desse existir, o morrer permanente, o sangrar silencioso, assim em frutos.

Me agarro em “deus”, me agarro nessa ideia como quem segura um fósforo aceso no meio de um furacão. A ideia de que alguém, em algum lugar, sabe o que está fazendo. Que há um plano. Que o caos não é absoluto. Que a segunda lei da termodinâmica não existe. Que logo após, não vem o zero absoluto. Tudo afunda, tudo escapa. Mas o amor, mesmo que imaginado, mesmo que quebrado, é o que ancora. Não um amor romântico, mas esse impulso primitivo de se fundir com o outro, de se reconhecer em alguém, de existir para além do próprio espelho. Sem isso, eu desmonto. Sem isso, viro só eco. Só ruído. Só silêncio disfarçado.