Amar é querer possuir o outro sem algemas, e falhar. Sartre estava certo: o inferno são os outros, e o amor é sua porta de entrada. Eu tentei amar. Não por virtude, mas por vertigem. Acreditei, por um instante patético, que o amor poderia ser um lugar de repouso. Mas o amor não é descanso, é vigília. É ansiedade de controle disfarçada de entrega. É a tentativa insana de capturar a liberdade do outro e de sufocar a nossa em troca. No fundo, amar alguém é desejar que o outro nos veja como insubstituíveis, que escolha a nós não por acaso, mas por destino. Mas não há destino. Só escolhas. E cada escolha do outro é uma ameaça à nossa ilusão. Cada olhar que ele lança ao mundo que não somos nós, cada silêncio que não conseguimos interpretar, cada recuo é uma traição. Porque amar é esperar, e esperar é dar poder ao outro.
O amor, então, se torna uma guerra de vontades.
Tentamos possuir o olhar do outro, congelar sua liberdade, transformá-lo em reflexo. Mas a liberdade escapa. O outro é sempre outro. Um estrangeiro. Um buraco negro onde projetamos nossas carências.
Sartre disse: “Amar é querer ser amado.” Ou seja, amar é um pedido, e todo pedido carrega humilhação. O amor nos coloca de joelhos, mesmo quando tentamos parecer grandiosos. Mesmo quando dizemos: “te amo”, o que queremos dizer é: “Me torna necessário. Me dá um lugar. Me inventa um sentido.” Mas não há sentido. Só o vazio entre dois corpos tentando se convencer de que o toque suspende o absurdo.
E então me pergunto: vale a pena amar as pessoas?
Não. Amar é se tornar escravo de uma liberdade que não podemos controlar. É desejar ser tudo para alguém que continua sendo mundo demais para caber na nossa esperança. É construir castelos em pântanos com a certeza de que vão afundar. O amor não salva. O amor apenas nos mostra o quanto estamos dispostos a sofrer para não encarar o nada.
